terça-feira, 1 de janeiro de 2013

Tempo, Espaço e uma chávena de farinha.

É só quando estamos vulneráveis que notamos nele. Mistura-se com o vento, existente, mas ainda assim silencioso, e faz-se ouvir num dia negro de chuva. Mesmo quando a pressão está lá para ele ser veloz, apunhála-nos ao fim de ser sentido. Ou será que somos nós? O tempo somos nós. Ou melhor: Aquilo que criticamos do tempo somos nós. Porque sem tempo nada teria valor de ser recordado, e só é recordado por nós. O valor dado às coisas é nosso, o tempo apenas torna segura a existência desse valor. Não tem culpa de ser aquilo que é. Ninguém lhe lança bons ares. Então e precisamente o adverso? Devíamos estar gratos do tempo estar lá, precisamente para sabermos que os momentos existiram e vão existir. E mesmo acerca de nós próprios e do momento que vivemos. Saber e ter consciência de que somos. É o presente. O tempo é o presente. O tempo é uma ilusão, porque o que sabemos futuro e passado é aquilo de que nos recordamos e ansiamos, e essas ações não são nada mais que ferramentas do presente. "A Morte", a eventualidade e a incerteza estão associadas ao nosso cósmico colega, que recebe mais ódio do que os próprios eventos a que está associado, mas aí também estão a certeza, o nascimento e aquilo que não muda mais e é definitivo. Tanto pode ser negativo como positivo, admito, mas contesto ainda assim o poder deste factor, desta variável, deste simples enigma contextual, pois quero conhecê-lo como verdadeiro e não obscuro e sinistro.

A outra componente, ignorada. Delimitidor universal de volumes, densidades e ocupações até filosóficas, pois sem espaço não há transmissão entre neurónios. Espera. Sem espaço, não há pensamento. Toda a magia da perduração e poder da mente, ainda que abstracta e sob a forma de um testemunho, acaba por cair por terra na ausência de espaço. Espantoso. E irónico. Pura sensibilidade e toque do despertar da sapiência, resistente a todo o tremor e opressão, nada é se não houver volume. E talvez tão malvado e poderoso como o tempo? Quiçá. Verifiquei agora a sua franqueza e disponibilidade imediata para deitar abaixo o conhecimento. Evidentemente, o espaço é uma peça muito menos importante na nossa vida. Pensamos. Espaço pessoal, espaço de pensamento, espaço de orgulho, espaço de reconhecimento. A potência é menor quanto maior a área, concordo, mas a abrangência é definitivamente maior. A nossa vida gira em torno do espaço. O espaço que queremos, o espaço que evitamos, e quanto (chama-o) tempo temos para usá-lo ou deitá-lo ao lixo. Ora aí está a vida. Muito simples e devastadora.



Mas aquilo são os eixos. O que há para controlar, dimensionar, limitar e criar quando não existem recursos. Acabemos pelo início. O dilúvio da ideia e da consciência, mente, arte, conceito, pensar. A emoção, sentimento, razão, lógica.


A farinha.

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